Luiz Ceara

A regra é clara. Inadimplente tem que perder pontos para criar vergonha.

Luiz Ceará

Eu moro em Campinas e trabalho em São Paulo nos últimos trinta e poucos anos. Com alguns intervalos por trabalhos aqui na cidade.

Vivo no meio do esporte e sou da época em que assistíamos treino atrás dos gols, muito perto dos jogadores. E quando acabava o treino, era entrevista livre, cada um com seu assunto e seu jogador. Quem queria falar falava. Quem não queria era respeitado pelos repórteres.

Careca ficou um longo tempo contundido na época em que jogava no São Paulo. Voltou depois de muitos meses e fez, se eu não estou enganado, três gols. No vestiário do Morumbi, debaixo do chuveiro ele não quis dar entrevista. Estava irritado com a imprensa. Disse que se sentia abandonado na hora ruim, em que ele estava contundido.

Lembrei a ele que eu havia sido um dos únicos a entrevistá-lo, mais de uma vez, para a TV Globo, onde eu trabalhava e que não era justo aquela cena.

Alguns dias depois eu disse ao Careca que quando a carreira dele chegasse ao fim, eu ainda estaria lá trabalhando.

Ele entendeu o recado e hoje é, como já era na época, meu amigo pessoal.

Numa madrugada depois de um jogo da Seleção no Paraguai, ele me disse na porta da minha casa em Campinas depois de uma carona de Cumbica até nossa cidade:” Pode dar amanhã cedo que eu não jogo mais na Seleção. Acabou”. Era um furo que a TV Globo deu, menos pela minha capacidade como repórter, mais pela amizade que dura e dura.

Eu digo isso para mostrar aos dirigentes do futebol de hoje, que o jogador tem que ser respeitado como gente e não só pelo que ele faz dentro de campo. A regra que entrou pra valer no Futebol Paulista este ano, de que o clube que estiver inadimplente com o salário dos jogadores vai se dar mal. Vai perder pontos.

Li na Folha de hoje que Roberto Frizzo é contra, argumentando que “caso o atraso de salário aconteça num clube, poderia haver uma conversa com o elenco para conscientizá-los de que uma reclamação junto à FPF agravaria os problemas.”

Quero apenas lembrá-lo que jogador de futebol também tem família com filhos e dependentes. Contas de luz, água e supermercado para pagar. Aluguel, condomínio, telefone e muitas vezes pagamentos de casas ou apartamentos que foram comprados. E carros. São Pessoas comuns que trabalham dez ou até vinte anos, os que mais se cuidam. Depois é o ostracismo para a maioria deles. Sem aposentadoria.

Mas a amizade é para sempre, se houver respeito e responsabilidade por parte dos dirigentes.