Luiz Ceara

Ataia Mané, que Brasília gosta.

Luiz Ceará

“É muito triste ver mais uma vez comprovado que o Brasil é um país sem memória. Não se recorda dos seus heróis e seus ídolos”.

Quem está dizendo isso é Elza Soares, uma das maiores cantoras vivas do Planeta Terra, é claro que levando em conta que muita gente gosta de outras musicas e cantoras, e que gosto não se discute.

Mas ela está falando de futebol, não é de musica. E de um assunto que está me incomodando muito. Querem mudar o nome do Estádio Mané Garrincha em Brasília para Estádio Nacional.

O secretário distrital do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte, Pedro Fernando Avalone Athayde, é um dos organizadores do movimento “Fica Mané Garrincha” que está reunindo um abaixo assinado para que tal bobagem não aconteça. Ele afirmou que o falecido jogador é o símbolo do ‘futebol-arte’ e sugeriu uma estátua do ponta na frente do estádio.

Tem alguma coisa mais justa que isso?

Eu nem quero aqui discutir esse assunto, vou contar uma história que é para ocupar melhor este espaço.

Em 71 eu morava no Rio de Janeiro e era musico. Fui à casa de Elza Soares para mostrar uma musica a ela, já que estava gravando um disco. Na sala sentado, a porta abriu e Mané Garrincha entrou, atravessou a sala e depois voltou. Cumprimentou-me com um sorriso e minha vida virou do avesso. Deixei de ser musico para ser jornalista esportivo. Mané tinha esse poder. E tinha muito mais. Era um mágico, um palhaço e um gênio de pernas pra lá de tortas. Desafiava a noção do drible porque inventava.

Um dia, num amistoso do Botafogo com um time do interior de Minas, Mané quase matou um menino de vinte anos de tanto drible. Fez dois gols no primeiro tempo. Um baile, se me entende o amigo do Blog. No intervalo o treinador do time perguntou ao garoto: “Eu não te falei que era fácil? Se ele sair pela direita… marca. Se for pela esquerda… marca. Não tem erro. Ele não vai atravessar você. O que aconteceu¿”

O menino, assustado e com as pernas bambas respondeu: ”O problema é que ele ataia”.

Em Minas e no interior de São Paulo, a palavra “ataia”, é traduzida do caipirês como a forma de pegar um atalho, sair do caminho e pegar um atalho. Nunca seguir na trilha certa, se esquivar e até enganar.

Esse era o Mané, um cara que nunca seguia pelo caminho que era esperado,sempre ataiando,criando, recriando.

Tudo para nos encher os olhos, nos alegrar. Agora que ele virou nome de Estádio de futebol querem mudar. Só em Brasília, onde todos os absurdos viram coisa corriqueira.

Triste.

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