Bicho de 180 mil para cada jogador da seleção de futebol enterra o já desencarnado “espírito olímpico”.
Luiz Ceará
Escrevo apenas para me lembrar da prata que a seleção brasileira olímpica ganhou em Seul com um time em que despontaram Neto, Romário e Taffarel.
Antes, em Los Angeles – 84 ela já tinha beliscado uma prata.
E depois em Atlanta – 96, um bronze com uma atuação decepcionante. Mas bronze.
Em Pequim – 2008 mais um bronze.
E eu fico pensando. Duas pratas e dois bronzes fariam os coreanos ter vertigens, os mexicanos entrariam para a história do futebol e os japoneses pela primeira vez desfilarem em carros do corpo de bombeiros de Tóquio.
Aqui, se exige ouro. Nada menos que isso. É pressão no treinador e nos jogadores. Mano cai se não trouxer o ouro, comentam nos bastidores da CBF em Londres. Nosso país, o do futebol quer o ouro que não temos.
E agora, o esporte olímpico, que já tem patrocinadores para tudo e por isso mesmo deixou há muito tempo de lado o “espírito olímpico” vem com o famigerado bicho. É, o bicho pra vencer. Os jogadores do Brasil, diz a FOLHA DE S.PAULO de hoje na reportagem de Martín Fernandez, vão levar R$ 180 mil reais cada um, mais os prêmios para comissão técnica e funcionário, para levar o ouro no peito.
Isso vale numa competição olímpica? Claro que vale, porque ela prega, mas não faz como nas maracutaias dentro das quadras de basquete, vôlei, badmington e até no handebol, como estamos carecas de saber pelas notícias que não param de chegar.
Então, com o bicho, profissionalizamos o futebol nas Olimpíadas e acabamos por enterrar o já desencarnado “espírito olímpico”.
Depois do futebol eu volto.