A Mancha do Palmeiras.
Luiz Ceará
Saí de casa para um dia normal de trabalho. O que considero normal é entrar em cadeias pegando fogo e seguir a ROTA por oito horas para colher um flagrante do dia a dia violento de São Paulo.
Acho que já entrei em cadeias pegando fogo nas horas de uma rebelião umas 20 vezes. Os presidiários respeitam a imprensa por que ela mostra a condição desumana da cadeia onde eles vivem E a Polícia respeita a imprensa pela força que ela tem em seus noticiários mostrando como ela trabalha para combater o crime.
A Imprensa é respeitada neste país, por isso eu me orgulho de ser jornalista.
Entrei no Carandiru algumas vezes e fui respeitado. A única tatuagem que tenho no ombro direito foi feita lá dentro por um presidiário. É uma imagem de São Jorge,meu protetor. Vi o Palmeiras jogar dentro do Carandiru com Leão no gol e Luiz Pereira como zagueiro. O adversário era o time da casa, concentrado há alguns anos.Deu Palmeiras. Época de ouro.
Vi o Carandiru pegar fogo e entrei para fazer a reportagem para o Aqui Agora. É dessa época que eu estou falando. Quando eu era repórter do Aqui Agora nunca tive medo de policia nem de bandido. Era respeitado como o cara que falava a verdade no ar.
Mas as coisas mudaram. Hoje eu fui impedido de fazer um link, a entrada ao vivo nos telejornais de esporte, na Band, onde trabalho hoje. Aconteceu com um grupo de torcedores da Mancha, torcida que eu respeito. Fui desrespeitado pelos torcedores da Mancha, impedido de fazer meu trabalho honesto do dia a dia.
Tenho quatro filhos e três netos, 61 anos de idade e sou jornalista há 40 anos. Tenho idade para ser pai ou avô dos que me ameaçaram.
Hoje eu estou triste porque fui desrespeitado.
Espero que aqueles que me deixaram com medo pela primeira vez na vida não passem por isso nunca. E que eles possam encarar seus filhos todos os dias com orgulho, como eu faço. Sem ter que contar o que fazem na rua, como se fossem torcedores de verdade do Palmeiras de muitas glórias. Como aquele time que vi jogar dentro do Carandiru. Pena que vocês da Mancha ainda não tivessem nascido para ver.