O dia em que bati um penalti. Marcos estava no gol. Confira comigo no replay.
Luiz Ceará
A ultima coletiva de Marcos não foi uma “coletiva”.
Ele deu um show de bom humor, apenas um pouquinho mais relaxado que nos anos todos em que estivemos ao lado dele nos gramados e treinamentos e viagens, enfim… Marcos sempre foi como ontem.
Mas na sua ultima aparição como jogador treinando, ele inovou. Permitiu e se deu bem.
Quando eu percebi ele estava debaixo da trave treinando pênaltis. E quem batia? O fisioterapeuta? O médico, o treinador de goleiros, o massagista?
Não. A imprensa. E foi aquela farra. Ele catava tudo. Bola boa e ruim. Acho que só dois companheiros fizeram gols. Foram mais 60 penatis batidos,acho que mais que isso.Ele catava, e ria dos jornalistas. Meninos e mais experientes como eu. Meninos gordinhos e magrinhos, de barba ou ainda sem ela. E macacos mais rodados como este repórter que não agüentou a pressão e foi lá bater o seu pênalti.
Marcos gritou: “Não vai bater não velhinho? Vai afinar?
Olhei para o Baron, velho de janela, repórter cinematográfico que trabalha comigo na REDE TV, e fui em direção à bola. Perder a chance de bater um pênalti no mito? Nunca. Mas vacilei, é verdade.
Pensei no que aquele cara de mais de 1,80 de altura, Campeão do Mundo, da Libertadores, o maior ídolo do Palmeiras hoje, um cara sensacional como pessoa. Na minha frente debaixo dos três paus. Um pegador de pênaltis nato.
Arrumei a bola na marca da cal. E pensei.
Quantos caras fizeram isso na carreira de Marcos? Olhar pro cara se arrumando debaixo da trave dá certo receio. O gol fica pequeno.
Dei dois passos pra trás e me ajeitei. Vou chutar no canto direito dele.
O que será que ele tá pensando? Vou mais longe: o que ele pensou quando aconteceu isso? O pênalti?Agora a história é diferente, sou um jornalista, mas de respeito. Esse cara tem que me respeitar. Mas pela cara dele, meio sério e meio que sorrindo no canto da boca tava é de sacanagem comigo.
Criei coragem. Vou marcar o gol da minha vida. Eu que fui um volante ao estilo de Falcão, cabeça erguida, peito cheio de ar, que nunca olhei pra bola porque sabia onde ela estava, que passava bem e chutava melhor. Não fui craque, mas quase.
Mas o olhar do Marcos me intrigou. Olhei nos olhos do cara. Olhos não mentem. Tava me gozando aquele falastrão. É agora, pensei.
“Aí Marcão, tá preparado? tá preparado?
Marcão bateu palmas, que é como eles, os goleiros, fazem para tirar a atenção do batedor. Se empinou, cabeça pra frente, se arrumou.
Eu fui pra bola e chutei no canto, rente a trave direita, chute colocado, pênalti muito bem batido, indefensável. E comecei a rir do Marcão.
Dois segundos e ele chegou na bola. Foi como gato com fome, um leão na hora do bote, uma faísca. De sacanagem comigo.
No pé da trave, no chão, bola rasteira e como eu disse indefensável, ou quase, porque ele catou meu pênalti. Se esticou todo, mas catou.
“Esse eu fazia questão de pegar”, disse um dos maiores goleiros da história do futebol brasileiro com seu sorriso debochado. Marcos pegou meu pênalti.
Obrigado campeão, foi uma honra.