Luiz Ceara

Difícil acordar e faltar o JT na mesa do café, entre os jornais da manhã.

Luiz Ceará

Eu vou sentir saudade, muita mesmo. Fiquei honrado quando conheci meu amigo Savoia, no dia em que apertei a mão do Barklanos, da Denise e do Castilho.

 

Depois trabalhei ao lado do Prósperi e do Cosme Rímoli.

 

Um tempo de saudade e respeito pela notícia, a verdade e decência. Saudade dos profissionais.

 

Por isso, em homenagem a este JT que sempre respeitei, estou repetindo a crônica sentida e chorada do meu amigo Menon. Abaixo.

 

O JT e seus matadores merecem aplausos

29/10/2012 às 23:30, por [ Menon ]

Foi em Cali, na Colômbia, após uma conversa com Paulo Cobos e Fabio Victor, reporteres da Folha, que eu criei o mito dos Matadores do JT. Brincadeira interna entre nós – Cosme Rimoli, Luis Prósperi, Jose Eduardo Savoia, Luis Augusto Monaco e eu, que nunca teve intenção de melindrar amigos e concorrentes, mas que nos rendia muitas risadas.

Mas voltemos àquela Cali de 2001, onde havia espaço nos cinemas para que as pessoas deixassem suas armas antes de entrar para a sessão. Onde fui comprar um remédio e me deparei com um segurança da farmácia com um rifle na mão. O time de Felipão havia se classificado e viajaria até Manizales para enfrentar Honduras. Todos os jornalistas brasileiros alugaram um ônibus para a tortuosa viagem. As curvas da estrada de Manizales são um horror. Quem acredita em alguma entidade superior, acaba rezando. Não tem jeito.

Queria fazer alguma coisa diferente e no dia anterior, aluguei um carro. Cheguei a Manizales um dia antes de todos. Avisei à chefia do JT que faria isso e eles esconderam minha viagem. Os colegas do Estadão – o grande Eduardo Maluf era um deles – não sabia de mim. O jornal pegou o material deles e me deixou livre.

Cheguei a Manizales com Edu Garcia, o fotógrafo, e tiramos muitas fotos do estádio, que seria inaugurado. Entrevistei Maradiaga, um dos homens mais feios da história da humanidade, que era treinador de Honduras. Falei com o goleiro Valladares e lhe contei que Marcos, goleiro do Brasil, havia dito que não conhecia Honduras. “Então, ou ele não foi na escola, ou o ensino no Brasil é muito ruim”, disse o goleiro.

Como não tinha hotel para mim em Manizales, voltei a Cali. Quando cheguei ao hotel, me encontrei com Cobos e Fabio Victor. Eles me perguntaram onde eu havia estado. Contei da viagem e eles disseram. “Voces do JT sempre aprontam alguma. A gente só tem medo de vocês”.

Era verdade. Não digo isso por mim, mas pela tradição do jornal. O respeito pela editoria de esportes vinha de décadas atrás, construída por monstros como Vital Bataglia, Roberto Avallone, Sergio Baklanos, Denise Mirás, Castilho de Andrade e tantos outros.

O respeito era muito. Em 1995, na Copa América do Uruguai, eu estava na Gazeta Esportiva e percebi como a Folha da Tarde havia escalado um repórter apenas para ficar grudado em Cosme Rímoli e Prósperi. Ficou com o apelido de Sombra.

Mas, voltemos aos Matadores. Desculpem o vaivém. Foi então que inventei que todo mundo tinha medo da gente. E, no caminho ao Morumbi, a cada domingo, seja quem fosse meu companheiro de cobertura – sempre um dos quatro – falava para o motorista ir mais devagar. Queria ser o último a sair do carro, com o computador na mão, como se fôssemos aqueles mafiosos de filmes, só para assustar a concorrência. “Quando a gente chega, eles tremem. Chegaram os matadores, é o que pensam”, eu falava. E toso mundo ria.

Um riso do bem, sem arrogância. A gente era feliz, estava no melhor caderno de esportes do Brasil. Eu estava no jornal que gostava de ler desde há muito. Era o jornal ideal para mim, com a possibilidade de escrever textos longos e bem trabalhados. Foram muitos.

Em 2006, cinco anos após ter, com consentimento da direção, alugado um carro para andar uns 200 kms em busca de um furo, fui demitido do JT porque a contabilidade achou um erro nas minhas contas. Canetas de cores diferentes em uma nota de DEZ euros.

Eram novos tempos. Meu chefe não teve a coragem de me demitir. Ele só chegava a tarde no jornal e pediu que o Castilho me comunicasse pela manhã. Nem viu a minha cara. Junto comigo, saiu a Denise, depois o Rímoli e o Savoia, a ordem não interessa muito.

O Prósperi foi para o Estadão. Ficou o Guto a comandar o nosso JT.

Podia pedir um minuto de silêncio. Podia dizer RIP. Mas, sou matador, velho.

UMA SALVA DE PALMAS PARA O JT. É  O QUE PEÇO A VOCÊS.