Racismo é uma doença do mundo, do ser humano
Luiz Ceará
Eu estava sentado à mesa de jantar na casa de um amigo italiano logo depois que a Copa do Mundo de 90 tinha acabado. Fiz amizade com essa pessoa durante a Copa. Ajudou-me muito. Eu era grato e fui até a casa dele com amor no coração.
Em certo momento ele me chamou de irmão, se referiu a mim como se fosse a um irmão. O pai dele ficou vermelho. Ele era um italiano do norte, de Turin, um homem de olhos azuis e um sorriso largo. Ele olhou para o filho e disparou sem mais nem menos: “Você não pode ser irmão dele porque ele é negro”.
Sou descendente de escravo africano juntado com uma italiana de cabelos avermelhados. O filho deles, meu avô Luiz Ceará era mulato e se casou com uma alemã legítima, minha avó Rosária. Evidentemente sou moreno e meu cabelo, quando eu ainda o tinha, era encaracolado, quase pixaim, cabelo ruim mesmo, “de nêgo”.
O episódio, é claro, me deixou muito triste, mesmo porque o jantar acabou ali. Meu amigo levantou e saímos da mesa e da casa. O pai dele tentou uma desculpa, mas não colou. Era falso o arrependimento.
Eu fiquei com pena do me irmão italiano, meu irmão até hoje, embora o pai dele ainda me chame de negrinho brasiliano.
O que aconteceu com Boateng é apenas mais um episódio de rancor humano, de pobreza espiritual. Só vai acabar quando o amor ao próximo não depender da cor da pele, mas do olhar fraterno e da entrega da alma.
O povo italiano, como exemplo claro, mas o brasileiro, o alemão, gregos e troianos, árabes e judeus, são racistas. Nós somos racistas porque racismo não é somente chamar Boateng de negro, mas deixar de tratar ou sonegar atendimento médico a doentes em prontos socorros pelo país, não cuidar das crianças abandonadas nos faróis, não respeitar a educação como salvação do homem, não haver comida para todos e por aí vamos nós.
Há que tratar a doença do mundo com amor, fora isso…